Uma Ousadia Cultural que Resgata as Raízes do Funk
No último sábado, dia 15, o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo abriu as portas para a exposição “Funk: um grito de ousadia e liberdade”. Esta mostra tem como objetivo ampliar a visão sobre o funk, indo além do aspecto musical e resgatando as suas profundas raízes negras e periféricas. Após sua passagem bem-sucedida pelo Museu de Arte do Rio, a exposição apresenta 473 obras inéditas, que vão de colagens a vídeos, todas interligadas ao universo do funk na metrópole paulista.
A narrativa do funk, que surge em meio a ritmos e bailes, é contada por meio de obras que retratam a sua influência na moda, na linguagem e na cultura urbana. A curadora e pesquisadora Renata Prado, que tem se dedicado ao estudo do funk e das relações étnico-raciais, enfatiza a relevância de trazer essa vertente cultural para o espaço de um museu. “É essencial buscarmos o reconhecimento institucional da cultura negra e periférica, que ainda enfrenta desafios significativos”, afirma Renata. Ela ressalta a importância de entender o funk não apenas em São Paulo, mas em todo o Brasil, onde continua a ser alvo de discriminação e perseguição.
Leia também: Encontro Nacional de Gestores Culturais: Salvador se Destaca como Centro da Cultura Brasileira
Fonte: daquibahia.com.br
Leia também: Musical ‘Jeca’ Reinterpreta ‘Refazenda’ de Gilberto Gil em Sesc Consolação
Fonte: ocuiaba.com.br
O funk em São Paulo surgiu em paralelo com o hip hop, ambas expressões culturais emergidas como reações à exclusão social. Durante a mostra, destaca-se uma escultura impactante do artista “O Tal do Ale”, que representa um tênis feito de papelão. Nesse trabalho, uma etiqueta de instruções traz a mensagem provocativa: “Este tênis é um corpo ausente. Carrega o caminho que foi interrompido, o passo que não chegou em casa”. A obra homenageia nove jovens que perderam a vida em 2019, em uma ação policial durante um baile funk em Paraisópolis, um dos bairros mais periféricos de São Paulo.
Renata Prado, além de curadora, é também uma voz ativa na preservação da memória desses jovens, destacando que o museu cumpre um papel fundamental. “Trazer uma exposição que assegure a memória de jovens vítimas da violência estatal é uma maneira de legitimar suas contribuições artísticas para o movimento”, enfatiza. “A humanização do processo expositivo é crucial, uma vez que esses jovens, muitas vezes rotulados como rebeldes, merecem ser tratados com dignidade e respeito”.
A exposição “Funk: um grito de ousadia e liberdade” estará disponível para visitação no Museu da Língua Portuguesa até agosto do próximo ano. O espaço estará aberto ao público de terça a domingo, e as entradas são gratuitas aos sábados e domingos, assim como para crianças até sete anos. Essa é uma oportunidade imperdível para mergulhar na rica história e na transformação cultural do funk, uma expressão que ressoa profundamente nas vozes da periferia e nas artísticas de todo o Brasil.
