quinta-feira, outubro 16

Festival Híbrido: Uma Vitamina Cultural

No último final de semana, São Paulo se tornou o palco para uma discussão rica sobre as culturas indígenas e sua intersecção com o turismo, destacando o Acre como um dos grandes protagonistas. Organizado com o apoio do governo do Acre, através das Secretarias de Estado de Turismo e Empreendedorismo (Sete) e dos Povos Indígenas (Sepi), o Festival Híbrido destacou-se por sua missão de valorizar as tradições locais e promover um diálogo amplo sobre as experiências dos povos indígenas.

Um dos momentos mais aguardados do evento foi o painel “Psicodelia ancestral, etnoturismo no Acre e COP30”, ocorrido no sábado, dia 11. Este debate contou com a presença do líder espiritual Bruno Brandão Shanenawa, que representará sua comunidade na COP 30, e da líder indígena Awa Pay Shanenawa, ambos oriundos de Feijó, no interior do Acre. A perspectiva técnica e governamental sobre o etnoturismo foi apresentada por Adalgisa Bandeira, chefe da divisão de promoção de destinos turísticos da Sete, que é especialista no tema.

Carlos Minuano, jornalista e curador do evento, enfatizou a relevante expansão do campo dos psicodélicos, ressaltando a intenção do Festival Híbrido de trazer à tona a voz indígena nas discussões contemporâneas. “Queremos que a perspectiva indígena e amazônica, muitas vezes negligenciada, seja ouvida”, destacou Minuano, traçando um paralelo entre a cultura amazônica e os debates modernos que frequentemente a ignoram.

Saberes Ancestrais em Protagonismo

Bruno Alex da Silva Brandão Shanenawá, conhecido como Fakaynū Shanenawá, ocupa um lugar de destaque como uma das lideranças espirituais do povo Shanenawá. Durante sua participação no Festival Híbrido, ele expressou a importância de discutir questões pertinentes à sua cultura, especialmente em eventos de grande relevância como a COP30, programada para o próximo mês em Belém (PA). “Este festival é uma oportunidade valiosa. Estamos aqui, trazendo a voz da floresta e a sabedoria do nosso povo. Isso é fundamental”, disse, em uma saudação calorosa.

Desde a infância, Fakaynū foi incentivado a abraçar a riqueza dos saberes ancestrais, incluindo artesanato, rituais de cura e a medicina tradicional da floresta. “Esses ensinamentos fazem parte de quem eu sou”, salientou, evidenciando a importância da transmissão cultural entre gerações.

Awa Pay Shanenawa, também presente no festival, enfatizou o valor de discutir a cultura indígena em fóruns nacionais e internacionais. “Este evento destaca não só o povo Shanenawa, mas todas as etnias que compartilham o uso da ayahuasca. É um momento crucial para ganhar visibilidade e falar sobre nossas práticas medicinais”, frisou, ressaltando a necessidade de uma maior representatividade nas conversas sobre cultura indígena.

O Apoio Governamental ao Turismo Indígena

Nos últimos anos, o governo do Acre tem fortalecido suas políticas públicas voltadas para a promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas, incluindo a valorização dos festivais culturais. Em 2024, pela primeira vez, 23 festivais indígenas foram oficialmente incluídos no calendário de eventos do estado, conforme publicação no Diário Oficial. Essa iniciativa representa um significativo respeito e apoio às tradições locais, permitindo que cada etnia se manifeste e promova sua cultura, impactando positivamente a economia regional.

Awa Pay Shanenawá ressaltou a importância do apoio governamental: “Chegamos até aqui graças ao apoio do governo do estado. É gratificante ver o Acre olhando para as populações indígenas e permitindo que falemos sobre nossa cultura e nossa verdade”, afirmou.

Conexões e Saberes no Festival Híbrido

Chegando à sua terceira edição em São Paulo, o Festival Híbrido promove um espaço de diálogo sobre a legalização, saúde e saberes ancestrais, conectando o empreendedorismo aos preceitos da economia verde. O jornalista Carlos Minuano, que já havia visitado o Acre no ano anterior, expressou entusiasmo em ver o estado representado no festival. “É uma honra abrir o evento com as vozes de Bruno e Awa Pay”, afirmou.

Outro participante, Carlos Messias, também destacou a riqueza cultural do Acre, compartilhando sua experiência na aldeia Segredo do Artesão, do povo Huni Kuin. “Essas experiências são inestimáveis. A cultura do Acre, com seus cantos e tradições, é um patrimônio vivo”, completou, reforçando a importância do festival na conexão entre as tradições indígenas e o público urbano.

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