Os Riscos de Confiar na IA para Planejar Sua Viagem
No mundo atual, cada vez mais turistas estão utilizando ferramentas de inteligência artificial (IA) para organizar suas viagens. No entanto, essa prática pode apresentar riscos significativos. Miguel Ángel Gongora Meza, fundador da Evolution Treks Peru, compartilha uma experiência intrigante que ilustra essas ameaças. Durante uma caminhada pelos Andes, ele ouviu dois turistas discutindo suas intenções de explorar um local misterioso: o ‘Cânion Sagrado de Humantay’.
“Eles apresentaram um roteiro que parecia elaborado e recheado de adjetivos encantadores”, relata Gongora. “Mas a verdade é que o tal cânion não existe!” O que os turistas descobriram foi que haviam sido enganados por informações erradas, gastando cerca de US$ 160 (aproximadamente R$ 850) em uma jornada que os levou a uma estrada rural sem assistência e sem o destino que esperavam encontrar.
Para Gongora, essa situação acende um alerta sobre os perigos da desinformação no turismo. “A altitude e as condições climáticas na região são fatores críticos que devem ser considerados ao planejar uma viagem. Ao usar programas como o ChatGPT, que misturam informações e criam ficções, os viajantes podem se encontrar em altitudes perigosas, sem oxigênio e sem sinal de telefone”, adverte.
O Crescimento do Uso da IA no Planejamento de Viagens
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Fonte: omanauense.com.br
Nos últimos anos, ferramentas de IA, como o ChatGPT e o Microsoft Copilot, tornaram-se parte essencial do planejamento de viagens para milhões de pessoas. Dados recentes mostram que cerca de 30% dos turistas internacionais passaram a utilizar essas soluções para organizar suas jornadas.
Embora esses sistemas possam fornecer recomendações úteis, a desinformação pode gerar frustrações e situações perigosas. Dana Yao, que escreve sobre viagens no Japão, teve uma experiência negativa ao utilizar o ChatGPT para planejar uma caminhada romântica até o topo do monte Misen. Após uma visita sem problemas à cidade de Miyajima, o casal seguiu as instruções da IA para subir a montanha, mas enfrentou uma surpresa desagradável.
Yao recorda: “O ChatGPT nos disse que o último teleférico descia às 17h30, mas já estava fechado quando chegamos lá. Isso nos deixou presos no topo da montanha!”
Casos de Desinformação e Seus Efeitos no Turismo
Outro exemplo alarmante ocorreu em 2024, quando um serviço de IA chamado Layla informou a um usuário sobre a existência de uma Torre Eiffel em Pequim, na China. O mesmo serviço sugeriu a um visitante britânico uma maratona no norte da Itália, que se revelou inviável.
Uma pesquisa realizada em 2024 revelou que 37% dos entrevistados que usaram ferramentas de IA para planejar suas viagens consideraram as informações fornecidas insuficientes, enquanto 33% relataram ter recebido dados falsos. Essa situação levanta questionamentos sobre a confiabilidade das respostas geradas por IA.
A Natureza da Geração de Respostas pela IA
Rayid Ghani, professor da Universidade Carnegie Melon, esclarece que programas como o ChatGPT podem parecer úteis, mas a forma como obtêm suas informações os torna suscetíveis a falhas. “Essas ferramentas não diferenciam conselhos válidos de meras combinações de palavras. Elas podem gerar respostas que, embora pareçam realistas, carecem de veracidade”, explica Ghani.
Esse fenômeno, conhecido como ‘alucinação’, ocorre quando uma IA cria informações que não correspondem à realidade. A dificuldade em distinguir entre informações verdadeiras e falsas pode levar os viajantes a experiências frustrantes e perigosas. Um exemplo disso foi um casal que se decepcionou ao chegar a um teleférico que, na verdade, não existia, após assistirem a um vídeo gerado por IA no TikTok.
Regulamentação e Vigilância do Uso da IA no Turismo
Atualmente, existem iniciativas buscando regulamentar como a IA fornece informações aos usuários. Propostas da União Europeia e dos Estados Unidos pretendem incluir marcas d’água ou sinais que indiquem quando uma imagem ou conteúdo foi gerado por IA. No entanto, Ghani ressalta que essa é uma tarefa difícil e que a detecção de desinformação ainda é um desafio.
Enquanto aguarda a implementação dessas regulamentações, especialistas sugerem que os viajantes sejam cuidadosos e verifiquem as informações fornecidas por ferramentas de IA. Ghani recomenda que, ao receber uma sugestão de viagem que parece perfeita demais, seja prudente e busque fontes adicionais de informação.
Para Javier Labourt, psicoterapeuta clínico, viajar é uma oportunidade valiosa de interação cultural. Ele acredita que, quando as alucinações da IA distorcem a realidade, isso pode prejudicar os benefícios intrínsecos do turismo. Labourt enfatiza a importância de manter a mente aberta e se adaptar às surpresas que podem surgir no caminho. “Se você já está lá, como irá resolver a situação? A viagem pode ser incrível, se você permitir”, reflete ele.