O Desafio do Plano Clima para o Agronegócio
O Plano Clima se destaca como um dos principais instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima no Brasil. Dividido em estratégias de adaptação e mitigação, o último está no centro das discussões atuais. Sua missão é clara: distribuir responsabilidades entre sete setores econômicos para auxiliar o Brasil a cumprir sua mais recente Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), apresentada à Convenção do Clima da ONU no final de 2024. O compromisso do país é reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, em comparação a 2005, ou de 49% a 58% em relação a 2022, ano que serviu como base para o plano. O objetivo final é alcançar a neutralidade climática até 2050, o que implica em não emitir mais gases do que a natureza consegue absorver, em alguns casos, utilizando tecnologias de remoção.
Aloisio Melo, titular da Secretaria Nacional de Mudança do Clima no Ministério do Meio Ambiente, enfatiza a importância do plano de mitigação, afirmando: “Não é suficiente apenas ter uma NDC; é vital entender como essa meta será implementada”. Segundo ele, a definição clara de responsabilidades setoriais é crucial para garantir que cada setor cumpra sua parte. “Todos devem ter consciência de suas obrigações,” complementa Melo.
Estrutura do Plano Clima Mitigação
O Plano Clima Mitigação é composto por oito documentos, incluindo uma Estratégia Nacional e sete planos setoriais, com a participação de 19 ministérios e a coordenação do Ministério do Meio Ambiente. O Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, que reúne 23 ministros, é responsável pela aprovação final do plano. A premissa central do plano é simples: “cada um cuida de suas emissões”. Melo explica que a responsabilidade recai sobre aqueles que têm os instrumentos para controlar as emissões, sejam eles órgãos públicos ou agentes privados.
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Entretanto, essa lógica gera resistência, especialmente entre os representantes do agronegócio, que se opõem a assumir a parcela de responsabilidade que lhes cabe no aquecimento global.
O Agronegócio e a Imagem Desfavorável
No Brasil, a maioria das emissões de gases de efeito estufa provém do que é classificado como “uso da terra, mudança de uso da terra e florestas”. Este termo abrange as emissões decorrentes do desmatamento e da queima de vegetação nativa. De acordo com o Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa de 2022, essas atividades representaram 39,5% do total de emissões no Brasil. A maior parte do desmatamento ocorre em propriedades privadas, seguido por assentamentos rurais e áreas públicas.
É importante notar que as emissões decorrentes da mudança de uso da terra foram alocadas, em grande parte, ao Plano Setorial Agricultura e Pecuária. As áreas destinadas à agropecuária, incluindo assentamentos de reforma agrária, estão sob a responsabilidade dos Ministérios da Agricultura e Pecuária, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Pesca e Aquicultura.
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Resistência à Realidade
Os dados do Plano Clima Mitigação revelam que a agropecuária é responsável por quase 70% das emissões brasileiras. Além das emissões por desmatamento, o setor também contribui significativamente com metano, resultado da digestão dos ruminantes, e com emissões relacionadas ao uso de fertilizantes nitrogenados. Em 2022, as atividades agropecuárias representaram 30,5% das emissões totais.
No entanto, representantes do agronegócio e algumas figuras no Congresso demonstram descontentamento com essa realidade. Durante uma audiência no Senado em agosto, a senadora Tereza Cristina argumentou que o plano prejudica a imagem do setor e suas exportações. Ela questionou a justiça de atribuir uma quantidade tão grande de emissões à agropecuária, ressaltando o papel do Brasil como um grande fornecedor de alimentos para o mundo.
A resposta do governo, através de Adriano Santhiago de Oliveira, secretário adjunto da Casa Civil, lembrou que as taxas de desmatamento sob a gestão anterior haviam sido as maiores desde 2009, destacando que a imagem do Brasil começou a melhorar nos últimos anos.
A Necessidade de Responsabilidade
A resistência do agronegócio em aceitar sua responsabilidade nas emissões é evidente, especialmente diante da questão do “direito de desmatar”. No entanto, é crucial que o setor reconheça sua contribuição significativa para as emissões globais. As discussões atuais indicam que a a responsabilidade pela redução do desmatamento não pode ser negligenciada, mesmo que envolva propriedades privadas.
O Plano Clima busca não só abordar as emissões diretas, mas também promover práticas sustentáveis que podem beneficiar tanto o meio ambiente quanto o agronegócio. A seguir, o desafio será encontrar um equilíbrio entre as metas de redução de emissões e a necessidade de manter a produção alimentar sustentável e a segurança alimentar. Esta é uma questão que deve ser discutida amplamente, buscando compromissos que beneficiem todos os envolvidos.