A Revolução do Café em Tempos de Mudança Climática
O Jornal Nacional vem abordando, nesta semana, uma série de reportagens focadas na produção de alimentos em um cenário de mudanças climáticas. Na edição de quarta-feira (8), a atenção se volta para a cultura do café, que enfrenta desafios devido a alterações no regime de chuvas e ao aumento das temperaturas, ambos impactando as safras nos últimos anos. Contudo, a resposta dos produtores e pesquisadores a essas adversidades tem se mostrado promissora por meio da pesquisa genética.
No município de Piatã, na Bahia, um incêndio inesperado ocorreu em janeiro de 2024, em um período em que as chuvas normalmente ajudam a prevenir tais situações. Na manhã seguinte, Moacir verificou os estragos em seu cafezal e lamentou: “Isso aqui é a nossa safra. Infelizmente perdeu, queimou tudo. Perdemos um café de qualidade, o ganha-pão da gente”.
Em julho de 2025, a realidade não era diferente em São Paulo, onde os cafezais também sofreram com geadas. O repórter Tiago Eltz destacou a situação de Natalia Luglio, cafeicultora que se viu em uma colheita frustrante: “Essa área aqui a gente tinha uma expectativa de 50 sacas e a gente colheu 3,9 sacas. Tudo isso aqui era para estar cheio de café”. A insatisfação não se limitou à produção, refletindo nas prateleiras dos supermercados e no bolso dos consumidores.
Entretanto, a resiliência dos cafeicultores se evidencia nas iniciativas de adaptação. Natalia compartilha que está investindo na ampliação da área de cultivo e na implementação de irrigação. “Novas variedades, mais resistentes à seca, estão chegando. Árvores já começaram a ser plantadas no meio da lavoura”, afirma, antecipando-se às futuras adversidades climáticas. “Não vai dar mais para produzir café do jeito que a gente sempre produziu. A temperatura não é mais a mesma”, complementa.
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Fonte: acreverdade.com.br
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Fonte: soudebh.com.br
O Café Robusta e suas Oportunidades
Enquanto isso, em Cacoal, Rondônia, em agosto de 2025, o café robusta, uma variedade ainda pouco conhecida por muitos, demonstra seu potencial. Juan Travain de Souza, cafeicultor local, observou como a técnica de poda pode aumentar a produção: “Nós precisamos podar essas ramas que já produziram até 50% para que a planta tenha o estímulo para soltar mais copa para produção no próximo ano”.
Nos últimos 25 anos, os avanços em pesquisa genética e tecnologia elevaram a produção do robusta amazônico de dez para 68 sacas por hectare, quase três vezes a média do arábica no Brasil. Com inovação, Juan relata que em sua propriedade, o uso de drones e irrigação computadorizada permitiu alcançar cerca de 170 sacas por hectare.
Apesar de tradicionalmente o robusta ser considerado inferior ao arábica, a escassez de café em 2024 fez os preços dispararem, mudando a percepção dos cafeicultores sobre essa variedade. Fred Dellarmelino, que investiu em infraestrutura em sua propriedade, viu a oportunidade surgir quando os preços do café chegaram a R$ 2 mil. “Aproveitemos a oportunidade. A chance apareceu e não perdi não, peguei ela com as duas mãos”, conta.
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Fonte: cidaderecife.com.br
Garantindo o Futuro do Café com Sustentabilidade
Um dos principais pontos discutidos entre pesquisadores é a necessidade de proteger a Amazônia enquanto se busca alternativas para a produção de café. A Embrapa estima que, se apenas 25% das pastagens degradadas em Rondônia fossem convertidas para cafezais robustas, a região poderia se tornar o maior produtor mundial dessa variedade.
Os pesquisadores acreditam que essa abordagem não apenas contribuiria para a produção sustentável de café, mas também traria benefícios financeiros significativos aos moradores da região. “Você precisa garantir qualidade de vida de quem vive na região amazônica se você quer ter preservação ambiental”, afirma Enrique Alves, pesquisador da Embrapa.
Atualmente, o robusta vem encontrando seu espaço no mercado. Considerado uma variedade de qualidade inferior, iniciativas têm sido implementadas para elevar sua reputação, inclusive a produção na Terra Indígena Sete de Setembro, que recebeu notas máximas em competições de qualidade.
Inovações e o Caminho à Frente
O Instituto Agronômico de Campinas e a Embrapa têm se unido para garantir que o Brasil tenha um futuro promissor na cafeicultura. Trabalhando com variedades desenvolvidas ao longo de décadas, a pesquisa busca introduzir genes de resistência a pragas e doenças, além de melhorar a tolerância à seca. Oliveira Guerreiro Filho, pesquisador do IAC, destaca que a diversidade de espécies é a chave para enfrentar os desafios que se avizinham.
Embora o futuro da produção de café ainda seja incerto, o Brasil possui os recursos necessários para enfrentar os desafios climáticos e garantir a qualidade do café nas xícaras do consumidor brasileiro. A história da cafeicultura no Brasil continua sendo escrita, com um olhar atento às inovações necessárias para manter a tradição viva e prosperar.