Reflexões sobre a Prioridade das Notícias
Já parou para pensar em como pequenas ocorrências podem parecer insignificantes diante das grandes questões que a sociedade enfrenta? Essa é uma sensação que muitos jornalistas e assessores de imprensa experimentam ao tentar destacar pautas que, à primeira vista, podem parecer triviais. Em meio a uma correria diária repleta de notícias urgentes e relevantes, como a crise de saúde ou questões sociais prementes, o desafio é garantir que todos os temas, mesmo os mais leves, recebam a atenção merecida.
Contudo, essa inquietação logo se dissolve quando as reportagens mais excêntricas começam a aparecer na programação dos telejornais. Lembre-se daquela matéria sobre uma galinha que adotou um gato ou o papagaio que elencou os vice-governadores do estado em ordem alfabética! Por mais divertidas que sejam, essas histórias levantam uma questão importante: até onde o insólito deve ser considerado no jornalismo, segundo a teoria do gatekeeping?
Leia também: Theresa Walcacer: a Pioneira do Jornalismo da Globo e sua Legado Inesquecível
Fonte: alagoasinforma.com.br
Leia também: Ação Governamental e MPAC Promovem Dia de Cidadania para Crianças em Cruzeiro do Sul
Fonte: acreverdade.com.br
Quantos assuntos de relevância foram deixados de lado em nome da notícia curiosa? A cada dia que passa, o público é bombardeado por conteúdos que priorizam o entretenimento em detrimento da informação crítica. A verdadeira questão que surge é: estamos realmente informados ou apenas distraídos por essas narrativas que, embora divertidas, não oferecem subsídio ao entendimento das questões que impactam a comunidade?
O entretenimento, sem dúvida, tem seu lugar. Ele é imprescindível para aliviar tensões, criar conexões e humanizar as relações. No entanto, quando essa leveza ocupa o espaço tradicionalmente reservado para a informação, o resultado é uma forma distorcida de jornalismo. O que antes funcionava como um intervalo entre tragédias, agora se transforma na essência de muitos noticiários. As emissoras perceberam que o humor e as situações absurdas podem capturar a atenção do público de forma mais eficaz do que a reflexão profunda e informativa.
A popularidade do “conteúdo leve” se espalhou dos celulares para as telinhas, resultando em um noticiário de entretenimento que se disfarça de jornalismo humanizado. É indiscutível que há um espaço para a curiosidade e o divertimento; no entanto, é preciso haver um equilíbrio. Quando o jornalismo se transforma em espetáculo, ele perde sua função essencial de intermediar a relação entre o cidadão e os eventos do mundo.
Em síntese, essa busca incessante pelo riso acaba ocupando o tempo que deveria ser dedicado à informação relevante. Assim, muitos cidadãos acreditam estar bem informados, mas na verdade, estão apenas sendo entretidos. O resultado disso é um novo tipo de desinformação: a desinformação gerada pelo excesso de irrelevância.
Não se trata da típica fake news, mas de uma desinformação sutil e, ironicamente, verdadeira. Com apresentadores sorridentes e reportagens envolventes, como se estivéssemos em casa, essas narrativas não mentem, mas também não esclarecem nada. Esse fenômeno impacta diretamente a agenda pública, fazendo com que pautas fundamentais pareçam distantes da realidade cotidiana da população.
O resultado disso é uma sociedade desmobilizada, menos capaz de se engajar em questões complexas. Afinal, uma vez que o fio da meada se perde, é difícil se reconectar com os assuntos que realmente importam. Assim, entre histórias de galinhas mães e papagaios prodígios, o público se vê bem informado — mas apenas sobre o que não realmente importa. É hora de revisitar a ideia de que o que mais atrai audiência é a tragédia. Ao que tudo indica, talvez o que realmente capte o interesse do público seja a leveza.