Um Setor em Crescimento, Mas com Desafios no Emprego
Quando se analisa a economia brasileira, a robustez do agronegócio se destaca, não apenas pelo volume e valor de produção, mas também pelo superávit significativo nas exportações. No entanto, um aspecto crucial que merece atenção é o mercado de trabalho desse setor, que possui grande impacto social. De 2014 a 2023, o Brasil enfrentou uma série de desafios econômicos, com um PIB crescendo apenas 0,4% ao ano em média, enquanto o crescimento global foi de 3%, e dos países do BRICS, 3,4%. Durante esse período, o agronegócio se mostrou resiliente, com a produção de grãos passando de 166 milhões de toneladas em 2012 para 322 milhões em 2022. Essa performance notável foi essencial para que o Brasil não registrasse resultados negativos no PIB, evidenciando a importância do agronegócio para a economia nacional.
No entanto, mesmo com um cenário de aumento na produção agrícola, o setor não conseguiu expandir a oferta de empregos. A taxa de desemprego no país ultrapassa 10%, o que levanta questionamentos sobre a dinâmica do mercado de trabalho no agronegócio. O Centro de Estudos do Agronegócio da FGV realizou uma análise do emprego no setor entre 2016 e 2023, revelando que o número de pessoas empregadas nessas atividades caiu de 14,34 milhões para 13,78 milhões, uma diminuição de 3,9%.
Ao observarmos as diferentes cadeias produtivas do agronegócio, notamos que a agropecuária enfrentou uma perda significativa de 889,2 mil empregos (-9,6%), com a agricultura sofrendo uma redução de 583 mil postos (-9,7%) e a pecuária, 306 mil (-9,5%). Por outro lado, a agroindústria de transformação viu a criação de 331 mil novas vagas (6,5%), impulsionadas principalmente pelo aumento de 18,2% no setor de alimentos e bebidas, além de um crescimento de 1,1% nos produtos não alimentícios. No balanço geral, o agronegócio perdeu cerca de 558 mil postos de trabalho.
Contradições no Mercado de Trabalho Agrícola
É interessante notar a contradição entre o crescimento do agronegócio e a estagnação da mão de obra ocupada. O estudo da FGV aponta algumas razões para esse fenômeno. Um dado encorajador é que houve uma melhoria na qualidade dos postos de trabalho. A redução das vagas se concentrou nos trabalhos informais, com uma diminuição de 10,3%, o que representa 924,3 mil postos eliminados. Por outro lado, os empregos formais na agropecuária aumentaram em 6,8%, correspondendo a 366,3 mil novas vagas, protegidas pela legislação trabalhista. Essa tendência de formalização deve continuar, pois o segundo trimestre de 2023 registrou o maior número de vagas formais (5,7 milhões) e a maior taxa de formalidade (41,5%) desde o início do monitoramento em 2016.
Um fenômeno semelhante foi observado na agroindústria, onde as vagas informais cresceram em um ritmo superior às vagas formais (8,6% contra 5,5%). Contudo, considerando que antes existia um maior número de postos formais, o crescimento foi mais expressivo, com 190,3 mil novos postos formais em comparação a 140,9 mil informais.
Evolução da Remuneração e Sustentabilidade no Setor
Outro aspecto a ser destacado é o aumento da remuneração média no agronegócio, que superou o crescimento médio da economia brasileira. Entre 2016 e 2023, a remuneração média dos trabalhadores do setor cresceu 12,6% (corrigido pela inflação), passando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. Em contrapartida, a média de remuneração no Brasil subiu apenas 4,3%, de R$ 2.719,44 para R$ 2.836,40.
Ademais, a sustentabilidade tem se tornado um pilar essencial para a competitividade do agronegócio brasileiro, visando aumentar sua presença no mercado internacional. Conceitos como ESG (Environmental, Social and Governance) estão cada vez mais integrados à produção agrícola, que, apoiada em tecnologias sustentáveis, busca reduzir seu impacto ambiental. O compromisso social também está se consolidando no setor, com iniciativas focadas na educação, capacitação e produtividade dos colaboradores, enquanto inovações como a agricultura 4.0, que inclui automação e digitalização, contribuem para um ambiente de trabalho mais seguro e melhor remunerado.
Essas transformações não apenas fortalecem o agronegócio, mas também promovem uma evolução significativa na qualidade de vida dos trabalhadores desse setor fundamental para a economia brasileira. As mudanças, portanto, vão além dos números e refletem um compromisso em construir um futuro mais sustentável e próspero para todos os envolvidos.
