A Crise Atual do Agronegócio e o Papel da Gestão de Risco
A atual crise no agronegócio brasileiro traz à tona um aspecto paradoxal: enquanto provoca perdas significativas, também força os envolvidos a se reúnam novamente em busca de soluções. Infelizmente, essa discussão frequentemente ignora as responsabilidades históricas dos agentes, como governo, instituições financeiras e produtores, que há décadas contribuem para a geração de um cenário de desequilíbrio. A pergunta que permanece é simples, mas incisiva: não aprenderam nada com os erros do passado?
No contexto do agronegócio, a gestão de riscos é uma prática essencial e não deveria ser terceirizada. Ignorar esse princípio leva a um ciclo vicioso, resultando em crédito comprometido, constantes renegociações, inadimplência e até mesmo recuperação judicial. Essas situações frequentemente resultam em perdas patrimoniais para os produtores e desestruturação das famílias envolvidas, perpetuando os problemas dentro do setor.
Entendendo a Alavancagem e o Risco no Agronegócio
Recentemente, muitos representantes do sistema financeiro têm tentado justificar o elevado endividamento do agronegócio brasileiro como uma questão de “alavancagem excessiva”. Contudo, essa análise é limitada e não considera o fator crucial: a falta de gestão de risco climático, que tem um impacto devastador nas margens e na capacidade produtiva dos agricultores, multiplicando as perdas.
Na teoria econômica, a alavancagem refere-se ao uso de recursos de terceiros para maximizar os retornos. Essa prática é válida quando acompanhada de uma gestão de riscos adequada. No entanto, quando se trata de alavancagem sem a proteção de seguros rurais e sem mecanismos de hedge, os envolvidos estão, na verdade, jogando uma roleta financeira. O que se observa na prática é que muitas instituições financeiras concedem crédito sem exigir garantias que assegurem a resiliência dos produtores, como o seguro rural e a proteção de preços. Assim, quando as coisas não vão bem, a sociedade é chamada a arcar com os prejuízos por meio de programas que renegociam ou perdoam dívidas.
A Falta de Políticas de Gestão de Risco e suas Consequências
A ausência de políticas consistentes de gestão de riscos agropecuários, como a implementação de seguros rurais, é o verdadeiro entrave estrutural que o Brasil enfrenta. É incoerente que instituições financeiras que operam com bilhões em crédito rural ignorem o seguro como uma ferramenta crucial para garantir a estabilidade do setor. Discutir rentabilidade e mercado sem considerar o risco climático é, no mínimo, abordar apenas a superfície do problema.
Em mercados mais maduros, como na Espanha e nos Estados Unidos, os agricultores que não contratam seguros ou instrumentos de proteção adequados são excluídos de ajudas extraordinárias. Essa lógica de responsabilidade compartilhada e prevenção é um modelo a ser seguido. A proteção contra flutuações de preço, que é cíclica, pode ser realizada através de ferramentas como hedge e contratos derivativos. Contudo, a variável climática é contínua e, embora previsível em sua variabilidade, requer uma abordagem diferente.
Um Apelo à Responsabilidade e à Prevenção no Agronegócio
É chegado o momento de o Brasil avançar nesse aspecto. Precisamos responsabilizar aqueles que ignoram os riscos, exigir uma gestão de riscos clara como pré-requisito para a concessão de crédito e estruturar políticas que sejam preventivas, em vez de meramente paliativas. Se essa mudança não ocorrer, os desafios trazidos pelas secas futuras novamente revelarão o mesmo padrão de dívidas inadministráveis, renegociações mascaradas e a perpetuação de um modelo que confunde crédito com assistência emergencial.