A Inovação Tecnológica na Cajucultura Impulsiona a Economia Nordestina
O Brasil alcançou uma marca histórica na produção de castanha de caju, colhendo 161.014 toneladas em 2024, conforme dados do IBGE. Esse número representa um crescimento significativo de 38% em relação ao ano anterior, consolidando a cajucultura como um pilar estratégico da economia nordestina. Contudo, o setor ainda enfrenta desafios, operando em grande parte sob um modelo semiextrativista que limita a produtividade e apresenta alta variabilidade genética. Para superar esses obstáculos e avançar em direção a um modelo mais tecnificado, a Embrapa Agroindústria Tropical lançou em dezembro a nova cultivar BRS 805. Esta nova variedade promete revolucionar a renovação dos pomares, aumentar a sustentabilidade e, consequentemente, a rentabilidade dos produtores.
O Ceará, que lidera a produção nacional, foi responsável por 101.930 toneladas dessa safra, marcando um aumento expressivo de 61%. O Piauí também destacou-se com 26.172 toneladas, um crescimento de 25% comparado a 2023, enquanto o Rio Grande do Norte manteve uma produção estável, com cerca de 21 mil toneladas. Em termos de produtividade, o Brasil viu um aumento médio de 271 para 358 kg/ha, o que equivale a uma melhoria de 30%. No entanto, esse número ainda está aquém do potencial de alta performance desejado por especialistas e pesquisadores da área.
Clone BRS 805: Uma Revolução na Cajucultura
O clone BRS 805 é fruto de um longo processo de pesquisa iniciado nos anos 1990. O material genético original foi obtido em Pio IX, no Piauí, a partir de um experimento de produção de progênies. Com testes realizados no Campo Experimental de Pacajus, no Ceará, uma das filhas da planta, identificada como PRO 805/4, foi clonada e testada em condições de sequeiro a partir de 2003. Municípios como Pacajus, Cruz e Itapipoca, polo agrícola de destaque em 2024, mostraram a eficácia agronômica do BRS 805, que atingiu uma produtividade média de 1.800 kg/ha de castanhas entre o 5º e o 7º ano, o que é o dobro da cultivar CCP 76, a mais cultivada atualmente no Brasil.
Além disso, a produtividade em pedúnculo alcançou 23,8 toneladas por hectare, também superando a cultivar de referência. Essa nova variedade se destaca não apenas pela produtividade, mas também pelo seu porte intermediário, atingindo de 3 a 4 metros de altura e até 7 metros de envergadura. Com uma copa em formato de taça compacta, o BRS 805 é ideal para a mecanização agrícola, contribuindo para a redução de perdas e melhorando a eficiência do manejo.
Características de Resistência e Sustentabilidade
Outra vantagem do BRS 805 é sua resistência a diversas doenças, como o mofo-preto, antracnose e septoria, que geralmente comprometem a produtividade em sistemas convencionais. O clone também mostra maior tolerância ao oídio, uma das doenças mais danosas à cajucultura. De acordo com o pesquisador Marlon Valentim, essa robustez permite um uso reduzido de defensivos agrícolas, diminuindo custos e aumentando a segurança alimentar para os consumidores.
O clone será disponibilizado inicialmente para viveiristas registrados no Renasem, com um edital público programado para ser lançado em 12 de janeiro de 2026. Isso faz parte do comprometimento da Embrapa em expandir o acesso a tecnologias que beneficiem os produtores.
Impacto da Cajucultura no Semiárido Brasileiro
O cajueiro é uma das poucas frutíferas adaptadas a regiões com precipitação anual entre 600 e 800 mm, permitindo sua produção mesmo em anos de seca, sem a necessidade de irrigação. Clones como o BRS 805, BRS 226 e Embrapa 51 foram desenvolvidos para solos arenosos e ácidos, demonstrando resistência hídrica durante os últimos anos de seca. Isso garante uma estabilidade produtiva em áreas com elevados déficits hídricos.
José Roberto Vieira, chefe de Pesquisa da Embrapa Agroindústria Tropical, destaca que a cajucultura vive um momento crucial. “Temos duas opções: continuar com o modelo de baixa produtividade ou migrar para um modelo tecnificado que pode oferecer rendimentos superiores a 1.500 kg/ha”, afirma ele. Apesar do investimento inicial mais alto por hectare, o custo por quilo de castanha tende a ser menor, especialmente quando se considera o valor do pedúnculo.
Com isso, municípios como Severiano Melo e Apodi, no Rio Grande do Norte, conseguiram reduzir significativamente seus custos após a adoção de clones tecnificados. A diversificação dos pomares, conforme orientações da Embrapa, também é vista como uma estratégia eficaz para minimizar o impacto de novas pragas e doenças.
O Nordeste é responsável por mais de 95% da produção nacional de castanha-de-caju, com o Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte destacando-se como grandes players no setor, onde pequenos e médios produtores desempenham um papel fundamental. Assim, a cajucultura não apenas se estabelece como uma importante fonte de renda, mas também contribui para a formação de uma classe média rural no semiárido brasileiro.
