Reflexões sobre a Desfiguração do Museu
O Museu Paranaense (MP), um símbolo da cultura e história do Paraná, sofreu uma transformação significativa, e agora a sua função original parece ter se dissipado. Embora formalmente ainda esteja em operação, sua identidade foi tão alterada que muitos o consideram como se não existisse mais. O MP tinha como missão interpretar a rica história do estado, abrangendo desde os primórdios da ocupação humana até eventos marcantes como a Guerra do Contestado.
A exposição original do Museu iniciava com a rica narrativa das culturas indígenas, como Kaingang, Xokleng e Guarani. Seguia com a globalização econômica que as Grandes Navegações trouxeram, passando pelas Missões Jesuíticas que se estabeleceram durante a época dos Impérios Ibéricos. O MP também se dedicava a reconstituir a vida material e econômica do Ciclo da Erva-Mate, mostrar a conexão entre as elites econômicas e o tropeirismo, e discutir temas como a escravidão e a emancipação política do Paraná no século XIX.
Além disso, o Museu ressaltava a ascensão das elites urbanas, o impacto da Revolução Federalista e a questão do Contestado, associando o surgimento das ferrovias ao processo de urbanização. O espaço ainda era utilizado para biografias de figuras políticas locais e para destacar a produção cultural e artística paranaense, com um salão dedicado à música e às artes.
A Nova Identidade do Museu
A atual gestão transformou o MP em uma instância que poucos reconhecem. O que antes era um vibrante Museu Paranaense agora é mais conhecido como MUPA, ou UMPA, dependendo da leitura da nova sigla. Essa mudança levou a instituição a se tornar um mero museu de arte, o que levanta a questão: o que aconteceu com nosso único Museu Histórico? O MUPA se junta a uma longa lista de museus de arte em Curitiba, incluindo o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Oscar Niemeyer, mas parece que perdemos mais do que ganhamos.
As exposições que agora predominam no MUPA, em sua maioria, pouco ou nada refletem a cultura paranaense. Nos últimos anos, os visitantes puderam observar obras como instalações compostas por colheres e pedras, além de criações que misturam elementos do cotidiano com peças de arte. A proposta de arte contemporânea muitas vezes se distancia da essência histórica que o MP antes representava.
Entre as exposições, uma das mais criticadas é a que mistura cerâmicas produzidas em oficinas com peças do acervo histórico do Museu. Essa abordagem gera discordâncias, já que as peças do acervo histórico são utilizadas em criações que muitas vezes não fazem justiça à sua importância. Essa nova filosofia de curadoria tem levado a uma valorização de obras de arte que muitos consideram estranhas e de gosto duvidoso.
O Futuro do Acervo Histórico
Com a transformação irreversível do MP em MUPA, surge a pergunta crucial: onde estará o acervo histórico? O Museu abriga mais de 370 mil peças, incluindo um tesouro de oito mil itens do antigo Acervo Davi Carneiro, que simplesmente não se encaixam na nova proposta do Museu. A necessidade de encontrar um novo espaço para preservar e expor esse acervo é urgente.
Uma sugestão para abrigar o antigo acervo é o prédio histórico da Agência Central dos Correios, conhecido como Correio Velho, no coração de Curitiba. Este edifício, além de ser imponente, possui uma história rica e poderia ser o local ideal para reestabelecer a importância do Museu Paranaense.
Além disso, o Acervo Davi Carneiro merece um espaço digno de sua magnitude. O que deveria ter se tornado um Memorial Davi Carneiro se transformou em uma loja de souvenirs, e hoje se resume a um caminho para um centro de convenções. O valioso acervo que um dia fez parte do MP permanece guardado, carecendo de um local apropriado que valorize sua história.
Em um mundo onde a história é cada vez mais relevante e necessária, cabe ao poder público estadual agir para garantir que a memória e a cultura do Paraná não sejam esquecidas. Uma proposta seria destinar o espaço da Casa Andrade Muricy como a nova sede do Museu Davi Carneiro, reestabelecendo o valor que a história paranaense merece.
