Obra de Luxo ou Motor de Desenvolvimento?
O recente anúncio do governo paranaense sobre a construção de uma marina pública de R$ 100 milhões em Pontal do Paraná tem gerado grandes comemorações entre a elite curitibana e os privilegiados do setor náutico. Durante a apresentação do projeto, feita pelo governador Ratinho Júnior (PSD), na inauguração do Verão Maior Paraná 2026, a expectativa é de que um convênio com a prefeitura seja assinado em 2026, seguido de um processo licitatório. O desenvolvimento do projeto será coordenado pela ParanáProjetos, entidade ligada à Secretaria do Planejamento.
No discurso oficial, a nova marina é promovida como um catalisador de desenvolvimento, com potencial para impulsionar o turismo e criar empregos. No entanto, na prática, parece ser uma obra desenhada especialmente para os que possuem lancha, helicópteros e recursos financeiros abundantes. O espaço contará com 478 vagas para embarcações, heliponto, marina seca e molhada, trapiches e uma sede que inclui restaurante, lounge, sala de jogos, vestiários, enfermaria e até uma área específica para limpeza de peixes.
Para aqueles que sonham, como os leitores de Cambira, no Norte do Paraná, é difícil não imaginar aportar suas lanchas de luxo e deslizar tranquilamente de Pontal do Sul até a Ilha do Mel. Um devaneio que, por alguns instantes, permite escapar das duras realidades enfrentadas pela maioria da população.
É fundamental, porém, olhar para o contexto. Enquanto a elite celebra essa nova estrutura, muitos paranaenses lidam com a falta de reajustes salariais, dificuldades em acessar moradias dignas, a violência diária, o desemprego e o colapso do sistema de saúde. Esses são problemas que não desaparecem com a instalação de uma marina.
Ratinho Júnior defende que a marina se integra a um conjunto de obras consideradas cruciais para o litoral, como a Ponte de Guaratuba e as obras de engorda das praias. Ele acredita que a nova estrutura será um atrativo para investimentos e aumentará a qualidade do turismo na região. Contudo, a questão que persiste é: para quem realmente são estas obras?
Recentemente, o sindicalista Messias Obama, conhecido entre os círculos políticos como “Bessias das Araucárias”, revelou sua atuação ao vender escadas à elite de Matinhos e Caiobá. Estas escadas foram uma tentativa de contornar a erosão crônica das praias, que frequentemente passam pelo fenômeno conhecido como efeito sanfona, alternando entre a engorda causada por intervenções públicas e a degradação imposta pela força das águas.
A marina será localizada em Pontal do Sul, adjacente ao Canal DNOS, e terá acesso facilitado à Ilha do Mel. A estrutura contará com guarita e acessos distintos para visitantes e usuários, além de um complexo que abrigará 16 conveniências, incluindo lojas náuticas, cafés, farmácias, mercearias e variados tipos de comércio.
O projeto revela uma clara hierarquia nas prioridades do governo estadual, que parece direcionar suas atenções para os que já têm. Enquanto isso, a maior parte da população permanece à margem, observando a festa no píer, sem qualquer perspectiva de inclusão ou benefício direto dessa nova estrutura.
Essa realidade deixa claro que, por trás dos discursos de desenvolvimento, existem interesses que prevalecem sobre as necessidades da maioria. Para quem vive a rotina da cidade e enfrenta os desafios diários, é difícil não se sentir excluído em um cenário onde a festa é promovida para poucos.
Para mais informações sobre os desdobramentos dessa e de outras questões políticas, continue acompanhando as atualizações do Blog do Esmael.
A seguir, um olhar sobre o vídeo promocional de Ratinho Júnior, que claramente ressoa entre os setores privilegiados de Curitiba.
